Same Mistake - Parte 2


Continuei andando, agora com mais ansiedade. Eu precisava te encontrar de qualquer maneira. As ruas, que antes eram tão poucas, começavam a ficar mais compridas, como se o caminho se alongasse para me impedir de chegar a tempo. Meu coração batia forte como se fosse explodir, saindo do peito. Agora uma chuva fria começava a cair, mas eu não me importava. Na verdade, eu nem sabia que estava chovendo, todos os meus sentidos estavam concentrados apenas em chegar logo.

Até que eu parei em frente a um portão vermelho, peguei o papel e vi que o número da casa era o mesmo, e por um momento eu hesitei, fiquei parada na chuva que já me encharcava. O medo me consumia por dentro e eu não sabia o que fazer, até que automaticamente apertei a campainha. Chamou, chamou, e chamou até você abrir a porta. Estava envolta em um roupão de seda, com os cabelos lisos pelos ombros, e se assustou ao ver-me:

- Entre logo, você vai se resfriar menina!

- Isso é tudo o que menos importa agora. – eu sorri e entrei pela porta aberta, enquanto você ria do meu jeito.

Daquela maneira, até parecia que eu era criança, quando na verdade era um pouco mais velha que você. Entramos na sala da sua casa e você trancou a porta, depois me olhou, dizendo:

- Vou te trazer uma toalha para você se enxugar e fazer um chocolate quente para nós duas.

Você foi até o quarto e me trouxe uma toalha grande e felpuda, e enquanto eu me enxugava, fomos até a cozinha, sentei-me na cadeira à mesa. Enquanto você preparava os chocolates quentes, eu não pude deixar de reparar em você. Apesar dos anos, você crescera e virara uma moça linda, elegante e maravilhosa.

O roupão de seda caía certo pelo seu corpo cheio de curvas, enquanto nos pés tinha uma pantufa quente. E mesmo que já fosse tarde da noite, eu podia sentir o seu perfume, talvez não aqueles que são vendidos em vidros, mas o seu próprio, exalado do seu próprio corpo, único e inesquecível, delicioso. Não sei quanto tempo fiquei te admirando, mas sei que voltei á realidade quando colocou uma caneca fumegante à minha frente e sentou-se à mesa também. Dei um gole, percebendo que estava quente, mas muito gostoso.

- E ai o que achou?

- Delícia. – eu sorri para você.

- Eu poderia te oferecer outra coisa, mas aqui só tem chá.

- Sabia que você deveria comprar um café de vez em quando, para variar? – nós rimos, provavelmente lembrávamos-nos dos gostos uma da outra.

Um silêncio se fez presente, para depois você o interromper:

- Quanto tempo faz?

- Três anos. – eu respondi baixinho.

- Qual a possibilidade de duas pessoas se encontrarem dessa maneira numa cidade tão grande?

- Não faço a menor idéia, só sei que aconteceu. – eu disse sorrindo.

E então mais um silêncio infernal se fez presente, por um tempo. Sua voz dessa vez soou calma e mais séria. Você não sorria mais.

- O que você quer?

“And so I sent some men to fight, and one came back at dead of night.
Said he'd seen my enemy. Said he looked just like me,
So I set out to cut myself and here I go.”

- Saber o porquê acabou. – eu disse baixinho, quase em um sussurro. Olhei-te nos olhos, aprofundando-me em seu redemoinho marrom.

- Isso foi há tanto tempo... – sua voz agora é vaga, pensativa.

- Eu sei. Mas só nos encontramos agora.

- O que passou, passou. Nós temos que seguir em frente. E eu já segui. – ao ouvir-te dizer isso, olhei em volta, e comecei a perceber que você não morava sozinha em casa.

Havia mais de um casaco no cabide, mais de um sapato na sala, na louça lavada dois pratos e dois copos, uma bolsa na porta, dois guarda-chuvas, um perfume masculino...  É, agora que eu havia me dado conta.

- Eu sei. Mas eu só queria entender, só isso, nada mais. – eu sussurrei.

Impossível conter as lágrimas de meus olhos, elas doíam fundo no meu coração, mas se contidas, doíam muito mais. Você suspirou fundo, cansada, como se aquele assunto consumisse toda sua energia.

- Você me conhece mais do que ninguém, sabe quem eu realmente sou. Não preciso explicar.

- Eu achava que eu sempre soube, mas chegou ao ponto de eu pensar que tudo não passara de ilusão, que na verdade eu nunca te conheci. – minha voz estava embargada, cheia de emoção.

- Okay, você venceu. – suspirou fundo, antes de continuar. - O que você tem que entender, é que eu não sou a melhor pessoa do mundo. Não sou perfeita. Eu sei o quanto eu te fiz sofrer, e eu me odeio por isso, mas eu sou assim, masoquista, adoro sofrer e fazer os outros sofrerem. É como se, fazendo isso, eu fosse mais feliz, vendo você rastejando por mim. É tão bom o sentimento de poder, sabe? Tão... Prazeroso. Eu sempre fui dramática, nos meus poemas, histórias e na minha vida, e nunca tinha sido amada, até você aparecer. Foi tudo um sonho quando estávamos juntas, mas então... O medo bateu á minha porta. Minha mãe, naquela época, começou a fazer perguntas, e ameaçava descobrir tudo, eu quase pirei de medo! Ela nunca aceitou isso, e você sabe. Achei que te dando um fora tudo se resolveria, como mágica. 

E de repente, aquela carta chegou a minha casa, e minha mãe leu. Tudo o que você escrevera para mim, me pedindo para voltar, tudo, ela leu. E eu tive que mentir e fingir que não te conhecia, que era brincadeira e que você era a amiga anormal. Só Deus sabe o quanto eu chorei naquelas noites, e o pior é que você não desistia! Tornando tudo mais difícil, pois uma parte de mim ainda te amava, queria lutar, mas na minha maioria eu era covarde. Nunca desistiria de tudo por um amor, nem por você, por mais que eu te amasse. E por mais de um ano ficamos sem nos falar, a não ser quando você veio para cá passar uma semana, me dizendo que estava aqui. Meu coração dava pulos de alegria, e uma vontade de te ver incontrolável me invadiu. 

Eu juro que quase peguei seu endereço para te ver, mas mais uma vez fui covarde, de nariz empinado, não querendo ferir meu orgulho. Fiz-me de indiferente e deu certo, você foi embora e nunca nos vimos. Eu pensava que assim seria melhor, se eu te visse eu não conseguiria mais me reerguer, nunca mais. Você foi a única que transpôs minhas barreiras, e eu nada pude fazer por isso. Você foi meu primeiro amor, inesquecível. Nunca menti ao dizer-te tudo o que eu disse as palavras de carinho e amor. Eu só... Nunca fui como você.

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