Um Amor Além da Vida: 9 - Um Pouco Mais Sobre Clarice


Capítulo 9 – Um Pouco Mais Sobre Clarice

Chegamos à praça de alimentação, com muitas mesas espalhadas e muitas pessoas conversando, tão entretidas estavam, que quando passamos entre elas até chegar em uma mesa no centro, ninguém sequer se deu ao trabalho de virar-se. Eu sentei ao lado de Clarice e Lilian sentou-se de frente para nós duas.

- O que vamos comer? - Clarice perguntou.

 - Eu vou pegar um suco de laranja para mim. O que vocês querem?

Clarice respondeu que queria uma coca e eu também. Lilian levantou se oferecendo para ir comprar as coisas. Ficamos a sós á mesa.

- Você a conhece há muito tempo? - eu perguntei, sem conseguir me segurar.

- Sim, fomos amigas de colégio. - acho que a segunda pergunta ficou tão impressa em meu olhar que ela respondeu sem eu dizer nada:

- Sim, tivemos um namoro naquela época, mas foi coisa de adolescente. E outra, naquela época, mesmo ela sendo dois anos mais velhos que eu, os pais dela descobriram e a proibiram de sair comigo, principalmente pela minha aparência... O que os outros diriam se vissem a filhinha princesinha deles andando com uma garota que parece um garoto? Ou, mesmo que não pareça, mas que use esses estilos? Fugindo do normal?

Enquanto ela falava, eu a olhava nos olhos, sentindo uma mágoa em sua voz. Ela parou um pouco e eu perguntei:

- E o que aconteceu? - ela respirou fundo continuando:

- Éramos o primeiro amor uma da outra, ou seja, ainda pensávamos que um amor seria eterno, que seríamos felizes para sempre. Lutaríamos contra tudo e contra todos para ficar juntas. Mas não foi bem assim que aconteceu. Nós sempre nos víamos e dormíamos juntas quando dava, mas os pais delas nos pegaram algumas vezes, foram conversar com a minha mãe, mas ela nada disse, pois sabe da minha opção e respeita. Eles acharam um absurdo, proibindo a filha até de sair de casa. Mudou-se de cidade, sem deixar que ela telefonasse nem mandasse carta. Ficamos uns anos longes uma da outra. Até ela completar dezoito anos, quando saiu da casa dos pais e se mudou para cá, estava muito diferente. Falamo-nos poucas vezes, pois mudamos muito, até nos encontrarmos hoje. Foi uma grande desilusão amorosa para mim, nunca mais acreditei em contos de fadas. Não tive mais namoradas fixas por muito tempo. Apenas rolos.

Ela acabou de me contar tudo e abaixou a cabeça, meio triste. Meu coração apertou, por saber daquela história de amor tão triste. Fiquei envergonhada de ter sido tão... Ciumenta e chata ao conversar com Lilian, ter feito uma tempestade em um copo d'água. Além de conseguir visualizar... Conseguir me ver... No lugar de Lilian.

É, apesar de eu ser lésbica, nunca contei para a minha família, não tenho dezoito anos ainda e sei que eles são muito preconceituosos, nunca entenderiam. Eu sempre meio que me escondo, fico na minha. Só meus amigos mais íntimos sabem disso.

Lilian voltou para a mesa trazendo os dois refrigerantes e o suco dela em uma bandeja. Sentou-se á mesa novamente.

- Nossa como a fila estava grande! - vi que Clarice enxugou uma lágrima pelo canto do olho e sorriu.

- É, percebemos que você demorou.

- E então, sobre o que falavam? - Eu resolvi desconversar, dizendo:

- Nada de mais.

- Como você vai? Faz tempo que não nos falamos. Namorando?

- Ah eu vou bem. To morando em um apartamento aqui em São Paulo, trabalhando em uma loja de vendedora, e terminei com a minha namorada.

- Por quê?

- Bom, digamos que eu não seja o modelo de namorada perfeita, fiel e romântica. Ela começou a me trair e então eu terminei com ela.

- Nossa, que ruim.

- É, mas estamos aqui. E vocês? Namoram?

Eu fiquei vermelha nessa hora, sem saber o que dizer totalmente envergonhado. Clarice riu e segurou minha mão por debaixo da mesa, respondendo:

- Não, não. Só amigas, por enquanto. - ela piscou para a loira, que sorrindo disse:

- Hum sei. Espero então que tudo dê certo nessa amizade de vocês. Sinceramente, fico feliz. Quem sabe a Clarice não sossegue um pouco!

- Lih! Olha o jeito que você fala de mim! - ela disse rindo, enquanto a amiga sorriu.

- Mas é a pura verdade. Essa garota aí era incontrolável na época do colégio... Você não sabe as coisas que ela fazia!
- O que? Conta-me! - eu fiquei curiosa, mas Clarice tentava impedi-la de falar, o que foi em vão.

- Ah, ela era meio que popular na escola, e as meninas passavam por ela e quase desmaiavam de excitação. Ela beijava uma embaixo da árvore e dizia que ela era sua favorita. Dali à 15 minutos estava beijando outra no banco da quadra, dizendo que ela era a mais especial. Mas ela sempre se safava. Só que teve um dia, que umas cinco meninas descobriram que ela estava pegando uma sexta, e quase colocaram a escola pra baixo, brigando com todo mundo e fazendo um estardalhaço. Conclusão: foram as sete para a diretoria, mais eu, que estava começando a me encantar por ela também, mas ainda era só amiga.

- Nossa! E depois? - eu achava tudo aquilo engraçado, e queria saber mais da história.

Sentia que estava começando a gostar de Lilian, ela não era tão ruim quanto eu achava. Quem sabe dali não sairia uma amizade? É, bem que existe aquele ditado: "As aparências enganam."

- Hey, já não acham que chega de falar de mim não? - Clarice nos olhou meio irritada, então Lilian acabou dizendo:

- Okay, okay. Pri, posso te chamar assim, não é? - eu respondi que sim com a cabeça e ela continuou:

- Então Pri, outro dia a gente continua essa conversa, porque do jeito que eu a conheço, daqui a pouco ela bate na gente.

- Okay então, mas temos que combinar de nos encontrar! - eu disse sorrindo, e Clarice me olhou espantada.

- Complô contra mim agora é?

Nós três rimos e quando olhamos no relógio, já estava muito tarde. Lilian despediu-se dizendo que tinha um compromisso e que combinaríamos de nos encontrar novamente. Já eu e Clarice, fomos rumando para a saída do shopping. Eu havia chegado de ônibus, então Clarice me comunicou que eu iria de moto com ela, sem nem me deixar protestar. Até parece que eu não ia gostar...

- O que achou dela?

- Da Lilian? - Clah balançou a cabeça afirmativamente e eu respondi:

- Bem legal. Espero encontrá-la de novo. - sorrimos uma para a outra e saímos do shopping.

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