Love Game: 19 - Jogo do Amor


Capítulo 19 – Jogo do Amor

 Os gritos histéricos de Jaque foram ouvidos, enquanto aquele alvoroço começava depois que a bala fora atirada. De um lado, Sally e Paola se voltaram para trás, boquiabertas com a cena que viam. De outro, os policiais também boquiabertos com a cena, enquanto a mulher começava a falar:

- Deixem-nas em paz! – uma moça morena, com os cabelos negros caindo pelos ombros, calça jeans justa, sandália de salto, blusa de seda preta, maquiagem, brincos de argola e jóias nas pulseiras e nos anéis, segurando uma arma que acabara de ser usada. A cena seria cômica, se não fosse trágica.

- Helena, sua louca! – gritou Sally, com os olhos arregalados. – O que você está fazendo? Atirou pro alto, mas esse tiro podia ter pegado em qualquer um de nós!

- Cala a boca Sally! O problema de vocês é que só falam e nunca fazem nada! Por isso chegou nesse ponto!

A arma continuava apontada na direção dos policias. O capitão pedia para que não atirassem nela, e gritava para que ela soltasse a arma, que tudo daria certo, que ficaria tudo bem se ela colocasse a arma no chão. É, não posso deixar de concordar, ela parecia uma doida varrida com um revólver na mão.

- O que vocês estão fazendo paradas aí feito espantalhos? Corram! – gritou Helena, bufando.

- Mas e você? Não vai conseguir e... - um policial tentou aproximar-se, sem fazer barulho, mas como o olhar de Sally mudara de direção, Helena percebeu e gritou:

- Mais um passo e eu atiro! De novo! Estou adorando isso! – soltou uma risada e voltou a falar: - Vai logo, depois a minha mulher me tira dessa confusão!

Sally sorriu, sem dizer mais nada. Amigos são para essas coisas. Sally segurou na mão de Lola e saiu correndo. Passaram para a rua de trás, e depois continuaram a correr, andando em zigue e zague, para despistar qualquer um que tenha tentado segui-las. Não podiam pegar o carro de Lola, porque certamente os policiais estariam por ali, já que o carro não estava longe. Avistaram um ônibus chegando ao ponto, na rua da frente.

- Tem dinheiro? – perguntou Lola, aflita.

- Sim! Peguei antes de fugir. – sorriu Sally.

Correram até a rua da frente e deram graças a Deus por só ter dois passageiros esperando o ônibus. Entraram e deram o dinheiro para o cobrador, passaram pela roleta e finalmente sentaram-se nos bancos, no fundo do ônibus. Agora sim, poderiam respirar com tranqüilidade. Lola olhou para Sally, com os cabelos loiros compridos presos em um rabo de cavalo, mas com os fios caindo pelo seu rosto.

- Eu não acredito no que fizemos! – sorriu.

- Nem eu! E meu Deus! Não consigo acreditar na Helena, toda montada nas jóias e toda chique, apontando uma arma! Aliás, onde raios ela conseguiu uma arma? – as duas caíram na gargalhada, fazendo com que todos olhassem para elas.

- Não faço idéia, mas sendo amiga sua, não duvido de nada.

- Hey, o que você quer dizer? – a loira fingiu uma cara de brava.

- Eu? Nada! – Lola riu baixinho, então seu rosto ficou sério.

- O que foi amor? – perguntou a loira.

- Agora, não temos para onde ir. Não podemos ir para a minha casa, nem para a sua. Muito menos para a da Helena. O que vamos fazer? – ela estava visivelmente preocupada.

- Bem... – Sally pensou por alguns segundos. – Eu tenho uma idéia da onde a gente pode ir. Pegamos o ônibus certo, já que algumas vezes eu saia daqui e ia para a casa dela, então sei qual ônibus nos levará ao nosso destino.

- Se você diz, eu fico mais sossegada.

Ela ficou quieta por um momento. Sua cabeça estava a mil, tinha tomado decisões tão rápido... Na verdade, sempre soube o que queria, só não estava preparada para encarar as conseqüências das suas escolhas. Já amara uma vez, mas não fora forte o suficiente para fugir. Mas agora... Ela tinha certeza. Sally valia à pena. Com todo aquele jeito doido e maluco dela, ciumento, sensual, e de tão bagunçado, tornava-se perfeito.

tt  Lola sentiu a mão de Sally em sua coxa, subindo, acariciando. Olhou para a loira ao seu lado, e percebeu que havia um sorriso malicioso no seu rosto.

- Não... – sussurrou.

- Por quê? – perguntou Sally, passando a língua pelos lábios. – Está com medo porque estamos em um ônibus?

- Não, já me acostumei com essas situações. – ela sorriu de leve, depois voltou a ficar séria. – Eu... Não sei até que ponto isso era um jogo para você. O quanto foi um jogo e o quanto foi amor. – havia vestígios de lágrimas no canto dos olhos castanhos.

- Minha menina... – Sally sorriu docemente. – Porque que quando amamos alguém, temos que nos tornar tão tradicionais e caretas? Eu não vou responder a sua pergunta, não vou dizer o quanto foi um jogo e o quanto não foi. Mas quero te dizer uma coisa. Lembra de quando me fodeu naquele banheiro da escola? O que eu senti... Meu Deus, como explicar? Foi incomparável, inesquecível. Senti que saía de órbita, o meu mundo parou de girar, vi estrelas explodindo diante dos meus olhos, senti meu coração batendo acelerado e uma certeza dentro do peito. Eu gosto de jogar com o sexo, é divertido e deixa tudo mais gostoso. Já o amor... Ah, minha flor, eu nunca tinha amado ninguém, como eu amo você.

A morena tinha lágrimas nos olhos. Sally era realmente extraordinária. Não tinha palavras para responder a loira, então continuou calada, com um sorriso estampado no rosto. Sally mordeu o lábio inferior e começou a beijar o pescoço de Lola vagarosamente, sem se preocupar com os outros dentro do ônibus. E Lola deixou-se ser tocada. Virou o rosto e beijou os lábios da loira com fervor, com paixão, determinação.

Sally encostou-se à parede do ônibus, e com o banco na sua frente, ninguém podia ver o que faziam. A loira beijou o pescoço da morena, mordiscando o lóbulo da orelha da outra, sussurrando:

- Vem, me fode.

- Adoro quando você fala assim, sabia? Nesse jeito só seu. – respondeu Lola, colocando seus dedos dentro da calça da loira.

Os dedos da morena entravam e saiam de dentro da loira, incrivelmente rápidos, incrivelmente lentos. Sexo pode ser incrivelmente bom dentro ou não de um relacionamento, com ou não um sentimento. Mas é inegável que quando se tem amor, tudo muda, se transforma de uma maneira quase que mágica. Tudo fica mais intenso.

Sally sentiu a cabeça doer, sentia o corpo todo tremer e não podia mais gritar. Se as pessoas prestaram ou não atenção a elas? Não sei... Elas estavam ocupadas demais com elas mesmas para pensar nos outros. Com o tempo, as pessoas mudam um pouco, mas não é que não são mais as mesmas do começo, é que a percepção delas muda, depois de um tempo de convivência.

Desceram do ônibus e o cobrador sorriu para elas, puderam ver ainda a carranca do motorista. Começaram a rir.

- E então? – perguntou Lola, olhando para a rua deserta.

- Vem comigo. – Sally deu a mão para ela e começou a descer a rua.

tt  Andara durante alguns minutos, até chegarem em uma porta vermelha, no fim da rua. Pararam ali, e Sally tocou a campanhia. Quando a porta abriu...

- Você? – perguntou Lola, sem conseguir esconder a surpresa.

- O que vocês querem aqui? – perguntou a professora de química, Camila, na porta da sua casa.

- Olha eu sei que você não quer me ver nem pintada de ouro, mas nos metemos em uma confusão maior do que estava, e precisamos de um lugar para ficar. É por pouco tempo, logo iremos viajar. Por favor, apelo para a sua piedade, nos deixe ficar! Eu peço desculpas, todas, muitas, sei lá! – Sally ia atropelando as palavras.

- Ora ora, veja como são as coisas. Você implorando por um lugar para ficar... Tudo bem, eu já superei. Entrem.

Elas agradeceram e entraram na casa. Camila fechou a porta, perguntando:

- Mas afinal, o que vocês são uma da outra? – Lola e Sally falaram ao mesmo tempo:

- Namoradas.

- Casadas.

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