Conto - Adeus

A lua brilhava no céu escuro, iluminando os dois corpos nus pela janela. Camile deslizava pelo corpo da morena, enchendo-a de beijos e carinhos, enquanto a própria morena tinha os olhos fixos no teto. Queria ter certeza que todo pedacinho de pele seria dela, coberto por ela e por seus beijos. Para sempre.

            Marina tinha os olhos secos e as mãos apertavam o lençol embaixo delas. Quando a loira desceu entre suas pernas, começando a sugar-lhe todas as forças, ela se contorceu de prazer. Apenas um ato reflexo, por causa do toque. Não saiu uma palavra da boca dela, nem um sussurro apaixonado, nada.

            Na vã tentativa de conseguir arrancar o que ela sabia que estava dentro do coração da morena, Camile puxou-a pelos braços, fazendo com que ela se sentasse de frente. Enquanto seus dedos faziam movimentos de vai e vem cada vez mais forte, sua boca passeava pelo pescoço da outra. Ela começou a sussurrar:

- Me ame. Me ame. Me ame. Me ame. - e os sussurros se transformaram em gritos.

- Não... – Marina balançava a cabeça de um lado para o outro.

            As lágrimas começaram a descer de seus olhos castanhos. Cansada, sem forças para continuar. Os gritos da loira continuavam, cada vez mais desesperados. Sem agüentar mais, Marina empurrou a outra com força, levantando-se da cama e gritando:

- Eu não amo você! – respirava rápido, o peito subindo e descendo.

            Camile caiu sentada no fim da cama. Estava assustada com a reação brusca da amada. Ficou paralisada.

- Você não sabe de nada! Nada! Achava o quê? Que me dando prazer iria fazer tudo voltar ao normal? Que o sexo iria mudar tudo? Você se acha esperta, todos os esses anos dizendo que me conhecia, que sabia quem eu era, o que eu sentia, o que eu fazia. Mas estava errada! Você não sabe porra nenhuma do que eu sinto! Não passa de uma egoísta que só sabe pensar em si mesma. Eu não tenho mais nenhum tipo de sentimento por você!

            Por um segundo, Camile tinha estado confusa. Depois, tudo fizera sentido. Realmente, o problema era nela. Nela e naquela sua cabeça confusa. Idiota! Convencia-se de algo e tomava aquilo como verdade absoluta. Achava que sabia o que a outra sentia, mas não sabia. Era tudo fruto da sua mente doentia.

            Distorcia a realidade conforme o que era conveniente para ela, mesmo que inconsciente. Levantou-se e começou a gritar, apontando o dedo para a porta:

- Vai embora! Saia da minha casa agora!

- Você está louca? – perguntou Marina, surpresa.

- Nunca estive mais sã em toda a minha vida. Saia! – saiu empurrando a loira até a porta.

            Marina olhou nos olhos verdes por um segundo.

- Eu saio. Nunca mais voltarei aqui. Nunca mais voltarei a ver você. – abriu a porta e saiu, sem olhar para trás.

            De um certo modo, ela estava certa, nunca mais voltaria a vê-la. Camile começou a gritar, o desespero tomando conta de tudo. Sentia-se mal, o estomago embrulhado, vontade de chorar, de esquecer, de gritar. Foi até o armário e pegou uma garrafa de uísque. Bebeu direto do gargalo.

            Pegou a garrafa de álcool em cima da geladeira e começo a jogar o líquido por toda a casa. Em cima do sofá, nas cortinas da janela da sala, na mesa de madeira da cozinha, na cama e nos lençóis, nos travesseiros, em tudo. Depois, pegou a caixinha de fósforos em cima da mesa e riscou um fósforo.

            O fogo tremulava no palito. Andou até o quarto e jogou em cima da cama. Pegou fogo rapidamente, com os labaredas consumindo os lençóis e travesseiros. Riscou outro fósforo e jogou na cortina, que pegou fogo rápido, até em cima. A casa começou a ser consumida pelo fogo, apagando toda e qualquer lembrança que pudesse haver.

            Pegou a garrafa de bebida e saiu pela porta lateral da cozinha. O vento gelado bateu em seu corpo nu, mas ela não se importou. Tomou mais um gole, enquanto se afastava da casa atrás de si, que ia sendo consumida pelo fogo. Chegou na ponta do penhasco, olhou o mar ali, revolto, as ondas grandes batendo, naquela fúria.

            Era assim que ela se sentia. Dentro dela algo estava inquieto, se mexendo, debatendo, doido para conseguir sair, se soltar. Virou o líquido da garrafa goela a baixo, depois a jogou longe. Ela estava fora de realidade, nunca se ajustara e nunca se ajustaria nesse mundo. Almas gêmeas não existiam. O amor de verdade não existia.

            Fechou os olhos e deu dois passos. A melodia ainda tocava em sua cabeça. Deixou libertar o que estava preso dentro dela. Pela primeira vez, sentia-se livre, livre para voar, livre para ser.

“Just gonna stand there and watch me burn

That's alright, because I like the way it hurts

Just gonna stand there and hear me cry

That's alright, because I love the way you lie

I love the way you lie”

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Conto baseado na música Love the Way You Lie

de autoria de Eminem e Rihanna