Fanfic - Castle Walls: Parte 06


Parte 06

O celular não parava de tocar, e depois de muito custo consegui pegá-lo de cima da mesa de cabeceira, ainda sem enxergar direito, e atender. “Beckett”, respondi, ainda com voz de sono, enquanto ouvia do outro lado Esposito me atualizando no caso. Logo naquela manhã o ex de Alice estava de malas prontas para sair da cidade, mas eles conseguiram o interceptar em casa antes que ele conseguisse fugir. Tinham-no segurado na delegacia, mas gostariam que eu fosse interrogá-lo. Como não era tão urgente, e ele já chamara pelo advogado dele, respondi que dentre uma hora eu estava lá. Quando consegui desligar o telefone, eu me virei de costas na cama e olhei a minha volta, nenhum sinal de Addison. Por um momento tudo pareceu um sonho, mas então comecei a ouvir barulhos distantes e de repente ela apareceu na porta do meu quarto, vestindo uma camisola salmão, com uma caneca na mão, cantarolando.

— Bom dia. – ela cumprimentou se aproximando da cama.

— Você sempre acorda de bom humor? – colocou o braço apoiado na cabeça, e sorri de volta. — Bom dia pra você também.

— Quando eu tenho uma boa noite de sono sim. – ela sorriu e subiu na cama, sentando-se ao meu lado. Beijou-me nos lábios e os dela tinha gosto de café. — Já precisa sair?

— Sim, mas daqui à uma hora.

— Bom saber... – ela tomou mais um gole da sua bebida e se levantou. — Vem, você precisa de um bom café da manhã.

— Acho que eu preciso é de um bom banho... – pra falar a verdade, eu não pensei em nada, apenas em tomar uma ducha rápido mesmo, mas quem disse que a ruiva me deixou? Lançou-me aqueles olhares furtivos e antes que eu pudesse me levantar, ela já estava na minha frente, beijando-me novamente e me puxando para si enquanto eu ficava de pé.

— Você não cansa não? – comecei a rir, enquanto ela ia até o rádio, ligava-o e voltava para mim.

— Na verdade, não tão fácil... Aliás, quem disse que eu vou fazer algo? Enquanto você toma banho, eu faço seu café. – ela piscou para mim.

— Sei... Vamos ver. – desvencilhei-me dela e me encaminhei para o banheiro e ela foi para a cozinha.

            A música alegre enchia o apartamento e Addie cantarolava junto com a música. Eu achava graça, era muito esquisito ter minha casa com aquela movimentação ainda mais de manhã. Tomei um bom banho, e quando já estava saindo do box, completamente distraída, senti o corpo de Addison atrás de mim e suas mãos em meus seios. Comecei a rir, recebendo uma mordida no pescoço.

— Hey! – reclamei, virando-me para ela. Olhava-me com uma cara sapeca.

— Vim avisar que seu café está pronto. – passou as mãos pelo meu pescoço, dando selinhos em meus lábios.

— Você vai se molhar inteira... – reclamei, tentando afastá-la. — E eu preciso me arrumar.

— Não tem problema, depois eu tomo banho também. – ela riu, beijando meu pescoço e enfim me soltando.

— Você não tem jeito mesmo. – sorri, andando até o quarto.

            Havia uma bandeja em cima da cama, com um copo com suco, uma xícara de café, e pedaços de torrada com manteiga. Fui tomando o suco e mordendo a torrada enquanto ia me trocando, com a ruiva sentada na cama se remexendo no ritmo da música. Não vou mentir, era uma sensação esquisita ter alguém por perto, mas não estava me incomodando, muito pelo contrário. Eu até que estava confortável com ela ali, era tudo muito... Natural. E eu nunca fora de levar namorados para passar dias em casa, não gostava. Mas com ela era diferente.

— Então, já pensou no que vai fazer hoje?

— Ainda não... O congresso é apenas amanhã, mas talvez eu veja uma das minhas colegas que também vai.

— Acho que seria legal, e qualquer coisa podemos combinar algo depois que eu sair do trabalho.

— Claro, a gente vai se falando. – ela piscou para mim.

            Quando eu já estava pronta para sair, Addison novamente me beijou, cheia de dengos e eu retribui. Não preciso dizer que fui cantando para o trabalho, o que era extremamente esquisito e fora de rotina para mim. Chegando à delegacia, todos já me esperavam para o interrogatório. Castle estava extremamente impaciente naquele dia, e eu já podia imaginar o porquê. Peguei a ficha do suspeito e evitando as perguntas de meu parceiro, entramos na sala de interrogatório. O sujeito era forte, meio careca e com algumas tatuagens. Parecia controlado, mas como eu disse, parecia. Conforme eu me aprofundava nas perguntas, dando indícios de que ele poderia ter algo a ver com a morte de Alice, ele ficava mais irritado e começava a perder o controle. Tentou dar desculpas sobre sua saída da cidade, mas checamos as opções e nada do que ele dizia estava sendo convincente.

Por fim, depois de muito tempo, ele acabou confessando que estava mesmo perseguindo Alice, mas que não a matara. Ela tinha pegado um dinheiro emprestado com ele e não queria devolver, então ele estava pressionando-a. Garantiu que, numa dessas vezes em que a seguira, percebeu que ela estava conversando com um cara bem apessoado, mas que não o conhecia. Só a ouvira chamá-lo pelo nome “David” algumas vezes. Pareciam próximos, mas ele não saberia dizer. Tentei arrancar algo dele, mas o cara não queria cooperar. Ainda estava bravo por que com a morte dela ele jamais reaveria seu dinheiro. Em um beco sem saída, deixei-o com o advogado e uma promessa de acordo e pedi para que Ryan e Esposito verificassem quem esse David podia ser e se ele realmente existia. Fui até a sala de descanso pegar uma xícara de café, e percebi que não ia conseguir fugir por muito tempo de Castle.

— Está tudo bem, Beckett?

— Claro, Castle, por quê? – tomei um gole do café forte, mas bom.

— Não sei, você parece diferente... Mais... Alegre? – ele levantou uma sobrancelha.

— Ora Castle, não seja bobo! E por que eu estaria mais alegre? Ainda mais com tanto trabalho e homicídios para resolver... – tomei mais um gole da bebida, tentando não engasgar.

— Também estou me perguntando isso... Namorado novo? – quando me perguntou isso pude perceber uma ponta de ironia por detrás do seu sorriso, que sempre parecia gentil.

— E eu lá tenho tempo para namorados, Castle? – bufei, revirando os olhos.

— Namorada? – antes que ele pudesse acabar de falar eu já tinha engasgado, e tentava não olhar para ele, fazendo o máximo para parecer normal ao responder:

— O que deu em você hoje? Fazendo essas perguntas esquisitas e absurdas? – virei-me, colocando a xícara em cima do balcão e me preparando para sair.

— Me desculpa, eu que ando meio esquisito mesmo. – eu sorri, virando-me para ele e o encarando. Deu-me um sorrido de canto, dessa vez parecendo o mesmo escritor que eu conhecera, mas eu sabia que ele não tinha acreditado em mim. — E aquela sua amiga com quem você saiu? Poderíamos sair hoje à noite...

— Eu não acha que vai dar, tenho... – mas antes que eu pudesse completar a desculpa, ele me cortou.

— Ah Beckett, vamos lá! Uma noite só, não vai matar ninguém... E eu prometo não dar em cima da sua nova amiga. – ele piscou para mim. Ah se ele soubesse...

— Okay, você venceu... Uma noite só, e é bom você segurar sua onda mesmo... – soltei um sorrisinho. — Aonde quer ir?

— No bar Cherry Three, ouvi falar que é ótimo! E tem até mesa de sinuca!

— Não! – foi instintivo. Ele olhou-me intrigado, e ainda mais desconfiado do que antes. Comecei a gaguejar, percebendo que minha reação não foi das melhores. — Quer dizer, eu não conheço esse bar, mas se você quiser ir e for bom... Pode ser... – tentei sorrir.

— Sim, é bom, tenho amigos que frequentam esse bar. Combinado então! Hoje às dez da noite. – ele sorriu animado e saiu da sala.

            Fiquei ali parada, pensando no que eu ia fazer. Eu não acreditava muito no “universo”, mas naquele momento pensei em como ele podia ser cruel. Castle havia escolhido justamente o bar em que eu e Addison nos conhecemos naquele final de semana. Ela provavelmente iria se lembrar disso. E quer saber o pior? Ele ter conhecidos frequentando o bar. Se algum deles tivesse me visto lá com ela, não duvido de que pudessem se lembrar e comentar alguma coisa. Mas como eu não podia recusar sem parecer suspeito era deixar nas mãos de Deus ou do tal “universo” e torcer para ele não ser tão perverso assim. Rapidamente peguei o celular e mandei uma mensagem para Addison, dizendo que ele nos convidara para sair e que eu tinha medo do que poderia acontecer. A resposta dela? “Mal posso esperar para conhecê-lo :)” Se meu instinto me dizia que isso poderia dar errado em todos os possíveis níveis? O que você acha?

            Ao final do dia eu já estava entrando em casa, pronta para tomar um banho e me preparar psicologicamente para a noite. Addison me recebeu com carinhos e vários beijos. Pedia para eu me acalmar, que não haveria nada de diferente, que daria tudo certo. Mas como uma boa policial que eu era já aprendera que em situações como essa tudo poderia acontecer. A ruiva insistiu em tomar banho comigo, e como eu poderia recusar? Seus toques e carinhos me deixaram bem mais relaxada, aquela ruiva sabia mesmo como me acalmar. Depois de meia hora já estávamos nos arrumando. Ela resolveu sair com um vestido preto e justo, sandálias de salto prata, o cabelo solto e penteado para trás e brincos de fios longos. Eu me decidi por um vestido azul escuro de decote nas costas e sandálias pretas, e também preferi deixar meu cabelo solto. Passei uma maquiagem leve, em contraste com a ruiva, que preferia maquiagem mais pesada e batom vermelho.

— Vai dar tudo certo. – ela sussurrou em meu ouvido, abraçando-me por trás enquanto eu me olhava no espelho.

— Eu espero que você esteja certa... – suspirei, segurando em suas mãos e adorando o beijo recebido no pescoço.

            Saímos de casa e não demorou muito para chegarmos ao bar. Olhei em meu relógio, já era dez e dez da noite, um pouco atrasadas. Quando pisei lá dentro não pude evitar as lembranças que apareciam em minha mente de quando estive lá com Addie. Os flertes, a mesa de sinuca, os drinques que tomamos... O momento que compartilhamos... E ao olhar para ela recebi aquele par de olhos que sorriam, confirmando que ela também estava tendo o mesmo olhar saudosista que eu. Ela sorriu e me deu a mão por um segundo, apertando a sua na minha, e mordiscou o lábio. Realmente aquele momento tinha sido mágico para nós, e aquele lugar era nosso lugar. Exceto que isso começou a se desfazer quando vi Castle acenando para nós do balcão. Soltei a mão da ruiva, respirei fundo, olhando-a e então dando o primeiro passo para uma das noites mais longas da minha vida.

— Boa noite, garotas! – ele nos cumprimentou, levantando-se do banco. Percebi que seus olhos me fitaram de cima a baixo, ele parecia surpreso por me ver vestida assim. Sorri, como se recebesse o elogio mudo em seus lábios, mas percebi como eles mudaram para maravilhados ao pousá-los em Addison. Ele não conseguiu esconder como a achara bonita, e isso me deixou levemente irritada.

— Boa noite, Castle. Essa é a Addison. Addison, Castle. – apresentei-a.

— Nossa! Beckett não me disse como você é linda! – ele sorriu, pegando em sua mão e beijando-a.

— Obrigada, que galanteador! – ela riu, e ao contrário do efeito que sua risada tinha em mim, ela pareceu me irritar ainda mais. — Prazer em finalmente conhecê-lo, senhor Castle.

— Pode me chamar de Rick. Sentem-se! – ele puxou dois bancos e eu fiz questão de me sentar ao seu lado e deixar Addison do meu outro lado.

— E então, o que vão tomar? – ele perguntou, e a ruiva prontamente respondeu:

— A especialidade da casa, claro. – sorrateiramente passou a mão em minha coxa, sem que ele visse. Eu sorri de canto, pedindo o mesmo.

— Um pouco doce, mas tenho que admitir que o drinque de cereja é realmente uma delícia. – ele comentou, tomando um gole do seu drinque, que parecia gim.

— Com certeza. – ela respondeu com um sorriso no rosto.

            O barman trouxe nossos dois drinques e fizemos um brinde. A partir daí, Castle e Addison entraram em uma longa conversa. Ele, sempre curioso, perguntava tudo sobre sua vida, seu trabalho como médica, seu relacionamento com seu ex-marido, enquanto ele comentava sobre sua ex-esposa, e seus livros. Ela adorava ler e ficou realmente curiosa sobre seus livros, gostava de mistérios. Eu estava alheia à conversa, achando tudo bem chato para falar a verdade, até ele começar a mencionar Nikki Heat...

— Meu último livro fala sobre a policial Nikki Heat, no qual a musa inspiradora é esta adorável detetive sentada entre nós.

— É mesmo? Interessante... – foi a resposta da ruiva, olhando para mim com a sobrancelha arqueada.

— Não é nada demais... – tentei disfarçar com um sorriso no rosto.

— Bem a policial é bem sexy e fiel à original. – ele deu uma piscadela. — Já tentei chamá-la para fazer uma encenação de algumas partes do livro, mas a Beckett é difícil de convencer... – ele sorriu de forma maliciosa e eu pude perceber pelo canto do olhar que agora Addison parecia ter se incomodado.

— É, em algumas vezes, em outras... – ela respondeu, colocando a mão em minha coxa, e novamente eu quase engasguei. Antes que ele pudesse prestar atenção e retrucar, eu resolvi intervir:

— Eu preciso ir ao banheiro. – e me levantei, mas a ruiva se levantou também.

— Eu vou com você. – ela sorriu e ele aproveitou para olhá-la de cima a baixo mais uma vez.

            Andamos rápido até o banheiro, e chegando lá eu entrei em um reservado com ela e tranquei a porta. Eu estava séria, e ela percebeu.

— O que foi, Kate? – ela perguntou, passando a mão em minha cintura.

— Castle praticamente te cantou a noite toda! – comentei irritada. Ela riu, retrucando:

— Pode até ser, mas ele é apaixonado por você, Kate. Dá para perceber isso de longe. – ela riu, eu ri, mas então nos demos conta do sentido do que ela acabara de dizer. Instalou-se um silêncio, e ela finalmente o quebrou: — E você? É apaixonada por ele?

— Eu... Não sei... – e eu realmente não sabia.

— Eu sou... Por você. – ela me disse sorrindo, e levou a mão ao meu rosto, acariciando, e depois se aproximou, beijando meus lábios. Colocou sua perna entre as minhas, fazendo pressão com sua coxa, e sussurrou contra meus lábios: — Mal posso esperar para chegar em casa...

— Eu também. – sorri e dei outro selinho nela.

            Quando abri o reservado, antes de sair olhei-me no espelho, ajeitando o cabelo para frente, e limpando a boca, passei novamente o batom. Saímos do banheiro e voltamos para onde Castle estava. Quando nos viu ele sorriu, e eu sorri de volta, sentei-me no banquinho ao seu lado, e então eu fiz a maior besteira da noite: passei a mão nos cabelos e fiz um rabo de cavalo, enrolando-o e colocando-o de lado, mas sem prender, deixando com que o lado esquerdo do meu pescoço ficasse à mostra. Percebi que Castle fixou seus olhos em meu pescoço, e o sorriso se desfez em seu rosto. Então ele olhou para mim, parecia magoado, e eu não entendia o que tinha acontecido. Ele tomou o resto da sua bebida em um único gole e se levantou.

— Eu sou um tolo, não sou? – sorriu irônico.

— O que foi, Castle? Aconteceu algo? – eu e Addie o olhamos surpresas.

— Bonita essa marca no seu pescoço... – ele apontou com a cabeça na direção. Passei a mão onde ele indicara e quando olhei em meus dedos, estavam borrados com o batom vermelho de Addison.

— Castle, espera, eu... – ele me interrompeu.

— Não. Eu estou interrompendo vocês... – ele se virou para ir embora, mas eu me levantei, precisava desfazer o mal entendido. Mal entendido? Seria?

— Espera, não é isso que está pensando, eu... Por favor, me ouça.

— Não, Beckett, não quero ouvir suas desculpas. Teria sido melhor se você tivesse sido sincera comigo. – ele sorriu tristemente, olhou para a ruiva e fez um cumprimento, deu as costas e saiu do bar.

— Droga! – eu coloquei a mão na testa, tentando me acalmar, sem saber o que fazer. Estava irritada, chateada, e perdida.

— Calma, Kate, vamos embora... A gente conversa quando chegar. – a ruiva pegou minha bolsa e fomos nos encaminhando para fora do bar.


            Nossa conversa quando chegássemos em casa não seria nada fácil. Eu estava confusa, cada vez mais. Não queria machucar ninguém... E machucara Castle. E estava perto demais de machucar Addison... Isso é um problema para quem guarda tudo para si mesmo. Eu gostava dele, e ele estava todos os dias ali comigo. Eu gostava de Addie, mas ela não estava ali, e eu não sabia se o que eu sentia por ela era tão forte a ponto de mudar radicalmente de vida. Eu sabia que essa noite não seria das melhores, e talvez fosse melhor que eu continuasse não acreditando em magia, destino ou universo, já que parecia que para mim eles sempre tinham um jeito de dar errado. 

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